O primeiro Amor
Ela tinha 13 anos e
parecia que o mundo conspirava contra ela. O espelho era seu maior inimigo, refletia
em zoom as espinhas que teimavam em nascer sempre que se aproximava um
aniversário ou uma festinha no final de semana. O cabelo fazia parte da tribo
“os rebeldes” e sempre que tentava uma nova alternativa tudo parecia ficar
ainda pior. Vivia em crise de identidade, para algumas coisas ela era criança,
para outras já era adulta e devia ter responsabilidades. Céus... !
Havia dias que ela queria criar asas e voar, sumir ... ficar
longe daquela sala de aula e daquela garota linda, loura, que ficava rodeada de
meninos, todos aos seus pés, bastava ela dar um sorriso e os olhos dos meninos
brilhavam com uma velada esperança de ocupar seu coração. Que inveja!
Às vezes a menina achava que vivia fora do seu tempo, tinha muito pra ouvir e ninguém lhe falava,
muito pra falar e ninguém lhe escutava. Ela sabia que era vista pelos adultos,
em geral, como atrevida, impaciente, rebelde, perguntadeira, questionadora,
incapaz de obedecer por obedecer. Possuía uma inteligência inquieta, mesmo os
“inimigos” reconheciam sua vivacidade. Seus sonhos eram grandes demais, não
cabiam naquela pequena sala de aula e nem naquela pequena vila. Pensava em um
futuro além das águas da ilha que a cercavam, queria viajar, correr o mundo...
Era difícil suportar os dias que se arrastavam. Seus livros
infantis não preenchiam mais sua imensa ansiedade. Mas, um dia aconteceu algo
inesperado, na aula de Português, sua professora uma freira, chamada Irmã
Carmelita, lhe apresentou Paul Géraldy. Um poeta francês que dizia palavras maravilhosas,
adivinhando sonhos e sentimentos que estavam latentes, escondidos entre os seus
mais íntimos segredos. Como o poeta podia adivinhar seus pensamentos. Aquelas palavras queriam saltar de sua boca
em busca de alguém para sussurrar belas frases de amor.
Mas, havia uma coisa estranha que não saia do pensamento da
menina: como uma freira podia gostar tanto daqueles poemas? Agora nada importava.... Paul lhe pegou pelas
mãos e a conduziu por caminhos suaves, falando de saudade, ternura e,
principalmente, falando de amor e lhe fazendo novamente sonhar.
Hoje, a não mais menina, mas ainda leitora sempre que olha na
estante um livrinho amarelado pelo tempo chamado “Eu e Você” de Paul Géraldy,
traduzido por Guelherme de Almeida, recorda com saudade os poemas daquele que foi
o seu primeiro amor e às vezes quando a solidão teima em lhe fazer
companhia ela recorre aos velhos poemas para acalentar sua alma...
MEDITAÇÃO
A gente começa a amar
por simples curiosidade,
por ter lido num olhar
certa possibilidade.
por simples curiosidade,
por ter lido num olhar
certa possibilidade.
E como, no fundo, a gente
se quer muito bem,
ama quem a ama, somente
pelo gosto igual que tem.
se quer muito bem,
ama quem a ama, somente
pelo gosto igual que tem.
Depois, a gente começa
a repartir dor por dor.
E se habitua depressa
a trocar frases de amor.
a repartir dor por dor.
E se habitua depressa
a trocar frases de amor.
E, sem pensar, vai falando
de novo as que já falou…
E então, continua amando
só porque já começou.
de novo as que já falou…
E então, continua amando
só porque já começou.
Maria C. F. Mártyres
Que lindo!! Falar de amor é o caminho reto e direto pra chegar ao coração! De qualquer pessoa, de qualquer idade... sempre!! E agora fiquei muito curiosa pra conhecer este poeta francês, e ler seus livros! Vou procurar!
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