pelos olhos da menina: Crônica - Procura-se um Culpado

terça-feira, 15 de julho de 2014

Crônica - Procura-se um Culpado



Procura-se um Culpado  
  
            A menina adorava  lembrar suas  histórias de leitura. Quem foi o culpado de lhe  mostrar o caminho da fantasia, do sonho, do voo sem assas. Quem foi? Quem carrega essa  culpa?
            Como será que tudo começou?   Será que foi  em uma tarde de chuva? Na  hora do sono que custou a chegar? Em um momento de oração ? Ou em longas horas de solidão?
            De quantos personagens ela foi cúmplices nos sentimentos: rindo, chorando, se  identificando, amando... Quantas emoções importantes nasceram pelas páginas lidas: tristeza,  raiva, irritação, medo,  alegria, pavor,  impotência,  insegurança... Enfim, quantos sentimentos, quantas perguntas respondidas, quantas dúvidas deixadas, tudo isso nascendo de um pequeno ou de um grande livro.
            Um livro nos pega pela mão e nos conduz por  lugares nunca dantes navegados. Mas, sempre há outras leituras, como as  belas canções que animavam suas  brincadeiras infantis e que depois ela repetia por horas, sem parar:  “...o anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.”.
       Lembra que a primeira história que tocou seu coração foi cantada pela avó enquanto embalava sua rede na espera que ¹MORFEU  chegasse e lhe fizesse  dormir e sonhar... A música falava da vida de um menino pobre e jornaleiro. Durante anos essa canção embalou seus sonos. Ela achava triste (talvez fosse até masoquismo, não que ela soubesse o que era isso, na época), mas sempre era a escolhida, pois antes de dormir ficava imaginando uma maneira de um dia ajudar aquele menino...
Olha a noite,
Olha a noite,
Eu sou um pobre jornaleiro,
Que não tenho paradeiro
Aí, ninguém tem vida assim,
Digo adeus a toda gente
Às vezes fico doente,
Ninguém tem pena de mim...
            Assim ela foi montando suas  leituras e criando suas próprias histórias. O mais importante nisso tudo é que ninguém lhe  obrigava a ler, pois leitura, na sua infância,  sempre foi um prazer.
            Recorda da maravilha que foi ler As reinações de Narizinho e pela primeira vez quis saber quem tinha escrito coisas tão maravilhas...  Monteiro Lobato. Foi aí o inicio de viagens cheias de aventuras e emoções que lhe fizeram navegar por um mundo maravilhoso nunca imaginado. É por  isso, que hoje, ela sabe como é importante dizer ao final de uma história, de uma música ou de um belo poema, quem foi  o autor capaz de afagar a nossa alma e elevar o nosso espírito com palavras  tão mágicas.
      E foi assim, durante esses devaneios, que ela vislumbrou uma possibilidade:
- Será que o culpado de me levar por esses longos, intermináveis e maravilhosos caminhos da leitura  foi Monteiro Lobato?
- Será?
 - Que bela culpa!
¹MORFEU: Deus  grego dos sonhos.



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