A menina adorava lembrar suas
histórias de leitura. Quem foi o culpado de lhe mostrar o caminho da fantasia, do sonho, do voo
sem assas. Quem foi? Quem carrega essa
culpa?
Como será que tudo começou? Será que foi
em uma tarde de chuva? Na hora do
sono que custou a chegar? Em um momento de oração ? Ou em longas horas de
solidão?
De
quantos personagens ela foi cúmplices nos sentimentos: rindo, chorando, se identificando, amando... Quantas emoções
importantes nasceram pelas páginas lidas: tristeza, raiva, irritação, medo, alegria, pavor, impotência,
insegurança... Enfim, quantos sentimentos, quantas perguntas
respondidas, quantas dúvidas deixadas, tudo isso nascendo de um pequeno ou de
um grande livro.
Um livro nos pega pela mão e nos
conduz por lugares nunca dantes navegados. Mas, sempre há outras leituras, como
as belas canções que animavam suas brincadeiras infantis e que depois ela
repetia por horas, sem parar: “...o anel que tu me deste era vidro e se
quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou.”.
Lembra que a primeira história que tocou seu coração foi cantada pela
avó enquanto embalava sua rede na espera que ¹MORFEU chegasse e lhe fizesse dormir e sonhar... A música falava da vida de
um menino pobre e jornaleiro. Durante anos essa canção embalou seus sonos. Ela
achava triste (talvez fosse até masoquismo, não que ela soubesse o que era
isso, na época), mas sempre era a escolhida, pois antes de dormir ficava
imaginando uma maneira de um dia ajudar aquele menino...
Olha a noite,
Olha a noite,
Eu sou um pobre jornaleiro,
Que não tenho paradeiro
Aí, ninguém tem vida assim,
Digo adeus a toda gente
Às vezes fico doente,
Ninguém tem pena de mim...
Olha a noite,
Eu sou um pobre jornaleiro,
Que não tenho paradeiro
Aí, ninguém tem vida assim,
Digo adeus a toda gente
Às vezes fico doente,
Ninguém tem pena de mim...
Assim ela foi montando suas leituras e criando suas próprias histórias. O
mais importante nisso tudo é que ninguém lhe
obrigava a ler, pois leitura, na sua infância, sempre foi um prazer.
Recorda da
maravilha que foi ler As reinações de
Narizinho e pela primeira vez quis saber quem tinha escrito coisas tão
maravilhas... Monteiro Lobato. Foi aí o
inicio de viagens cheias de aventuras e emoções que lhe fizeram navegar por um
mundo maravilhoso nunca imaginado. É por
isso, que hoje, ela sabe como é importante dizer ao final de uma
história, de uma música ou de um belo poema, quem foi o autor capaz de afagar a nossa alma e elevar
o nosso espírito com palavras tão
mágicas.
E foi assim, durante esses
devaneios, que ela vislumbrou uma possibilidade:
- Será que o culpado de me levar por esses longos, intermináveis e
maravilhosos caminhos da leitura foi
Monteiro Lobato?
- Será?
- Que bela culpa!
¹MORFEU: Deus grego
dos sonhos.
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